terça-feira, 2 de junho de 2015

Olheiras

Esse tempo em que dormindo, sonhava. Sonhava mas não com os maus-olhados, que provêm de olhares trancados no seu próprio medo. O medo é o seu pesadelo mais virtual, e que a noite assume como seu e pronto.
São demasiadas olheiras. Olheiras demasiadas para uma noite só.
Agora que o dia começou, posso por fim expirar e soprar os sonhos que ficaram presos num olhar só. 

Sabem quando se afogam na noite verdades de um dia que ela se lembrou de virar ao contrário? Se há coisa que não admito são sonhos presos em lugar algum. Prefiro vê-los livres ao invés de se limitarem a obstruir canais de passagem.
Enfim, andei pela rua. Andei e sorri para ninguém, porque até os sorrisos são fruto de um comércio ao desbarato. Agora tudo se vende, porque tudo representa um valor na moeda actual.

Já não se trocam ovos, por um quilo açúcar. 
Era um tempo, um tempo em que as trocas representavam verdades de um povo para não cair na desgraça de um mau-olhado qualquer. Agora tudo quer pertencer à realeza que do alto comanda, manda e desmanda. 
Agora tudo é de retalho em retalho, um negócio. 
Por isso gosto do dia virado do avesso. Tem mais alma, mais liberdade poética e os sonhos são mais genuínos e menos traiçoeiros.

DM/Dakini in Café da Manhã

1 comentário:

Filipe Campos Melo disse...

a tua belíssima sensibilidade escrita com um traço melancólico irrecusável