quinta-feira, 30 de maio de 2013

Ad Eternum

O que pensarias
Se me visses 
Ir embora
Sem um toque
Sem um gesto
Sem um aceno
Com a mão direita
Para logo depois
A da esquerda
Te tocar ao de leve
Os lábios 
Ainda quentes
Dos beijos 
Que demos
E dos soluços 
Que engolimos
Um do outro?

Diz-me porque
Mastigas o ar
Que respiro
E porque te deixas
Ao abandono
No mesmo chão
Onde apoio os pés
E te denuncias
No mesmo céu
Onde descanso
O corpo?

Disse-te tantas vezes
Que não existe 
Qualquer ponto
Em qualquer espaço
Que não esteja ocupado
Com um sentimento 
Que ainda não se entregou
Aos ventos do inverno
E nem às brisas
De uma primavera
Que agora chegou


2 comentários:

Filipe Campos Melo disse...

O eterno abandono contraposto à perenidade dos dias

O resto de ar rarefeito no espaço desocupado

E o verso
sempre o verso

"O que pensarias
Se me visses
Ir embora
Sem um toque
Sem um gesto
Sem um aceno"

Reencontro-me sempre

Bjo.



Silenciosamente ouvindo... disse...

Uma poesia muito comovente.
Muitas vezes vamos embora
sem ter tempo para um gesto...
para um toque...
Bj.
Irene Alves