quinta-feira, 26 de abril de 2012

Luzes


vejo-te madrugada
a ensaiar novos tons
para o dia que começa

 cores diversas
que enchem os dias
e se misturam
nas noites

misto de luzes
que se reúnem
no firmamento

quando do céu
chegar a voz única
do tempo
doação à terra
que o  viu nascer

será a força
que resgatará
o mundo
e o conduzirá
na busca
do elo dourado

há olhares
que se principiam
e outros
que se reiniciam
e um olhar
sempre a postos
a tocar um ponto
no horizonte
****************
(na foto - Filipa Almeida, minha filha)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Miséria Humana


  1. Miséria humana
    Gente tresmalhada que não sabe a origem dos seus medos
    Miséria humana
    Pobre gente que por não ter onde cair, vai caindo
    Miséria humana
    Humilhação em cima da mesa, por falta de uma côdea de pão
    ... Miséria humana
    Dos que não tem o que comer e vão comendo… migalhas
    Miséria humana
    Rostos disformes com calafrios na espinha
    Miséria humana
    Bombas que rebentam à porta de casa e não destroem as pedras da caçada
    Miséria humana
    Mãos em cima de fardos de palha, o que resta da ceifa da semana
    Miséria humana
    Corpos deitados numa praia deserta e o mar a sacudir os cascos de um navio
    Miséria humana
    Escassez da terra, do céu, do mar e de além-mar
    Miséria humana
    Enquanto as raízes das árvores secam e os frutos caem em bocas fechadas
    Miséria humana
    Saber falar e não saber o que dizer a quem está perto
    Miséria humana
    Não saber o que é o amor e sentir a dor e o desamor
    Miséria humana
    Sequestro da mente para pensar em nada
    Miséria humana
    Todos em pé à espera que o dia comece
    Miséria humana
    Todos em fila indiana para não perderem o norte
    Miséria humana
    Dois corpos a dormir lado a lado, sem saberem um do outro
    Miséria humana
    Os que trazem a miséria ao colo
    Miséria humana
    Olhar de perto a cidade numa noite de verão e saber que há gente a cogitar em vão
    Miséria humana
    Os que apontam o dedo indicador e não tocam em lugar nenhum

    …Miseráveis os que sem saber onde começaram, querem sentir-se esvair em algum lugar

    (Imagem retirada da Net)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Holocausto


Imagino o mar como um potencial destino dos deuses
Imagino sim, um mar prostrado a seus pés
Imagino como será esta força dominadora
E imagino simplesmente que sou onda sem ter onde rebentar

Respiro ainda, sim!
Aspiro um ar denso, poluído que se entranha
Nas entranhas todas do meu corpo

Sou onda sem ter o que abraçar
Sou maré sem ter onde se entregar
Sou simplesmente um movimento aberto a todos
Os que descem do farol mais antigo

Sim, a torre mestra que suporta um céu maior
Sim esse céu que foi mar e terra
Sim, esse céu que foi sol e lua
Sim, esse céu que foi o holocausto da humanidade
E a fez calar

Respiro ainda
Sim, e aspiro um ar salgado
moribundo
e furibundo por não saber onde se afundar

A extrema-unção dos vagabundos
Que na noite serena me namora nos dias santos
E me desflora nas noites errantes

Caminho só agora
e sou mar
e onda
e sol
e lua
e terra
Sem poiso certo
Suspensa na atmosfera densa

A extrema-unção dos vagabundos
É a chama acesa que incendeia os corpos lá fora
Lá, onde não há chão onde descansar
Lá onde a vida cessa sem cessar
Lá onde os caminhos se cruzam e delambidas bocas se fecham sem se beijar
Lá, há todo um corrimão de línguas afiadas prontas para me furar

Lá, onde os monstros choram e as lágrimas correm para o mar

terça-feira, 17 de abril de 2012

Razão



Perder a razão ou simplesmente deixar de a ter ao querer afirmar-se dono da sua própria razão, ou então, tê-la como um dado adquirido em expressões que elevados ao quadrado, se multiplicam e se desmistificam.


- Como se a razão fosse, um dado adquirido

- Como se a razão se propusesse a ser mais do que a soma de vários pensamentos, quando nem o pensamento é uno.


Proponho um brinde à razão:

À razão de ser

À razão de existir

À razão de coabitar no mesmo espaço onde o pensamento é vago, como vagas as ideias que a levam a querer assumir-se dona de tudo e de todos.

Aos que querem ter razão

Aos que não se querem submeter á razão dos outros

Aos que sabem como lidar com o próprio pensamento em ação para se afirmarem donos da sua razão

e

A todos os que sem saberem, caem nas maquiavélicas propostas de um pensamento abstrato, por pensarem que sabem onde encontrar a razão dos indefinidos.


Adianto-me à minha própria razão e digo-lhe só duas coisas:“Deixa-me em paz” ou “vai edificando um novo pensamento, mais de acordo com a minha vontade em não querer ter razão", ou então, ou então, assumir-me-ei por completo na razão - denominador comum de todas as frações de segundo em que a perco por completo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Andrómeda

(foto: DM)



Quero a face da lua
A descobrir nas noites
Um universo
De fragrâncias soltas
E aguardar pelo último sol
Nascente no meu rosto

Encontras-me sempre
No aroma das flores silvestres
Num traço castigando
Os poros a descoberto
No meu corpo
Enquanto os meus olhos
Envoltos em fios luz
Tão fina mas tao gasta
Dançam no teto liso
De uma casa sem paredes
Nem janelas
Para me aventurar
Nos caminhos
Da nova Andrómeda