quarta-feira, 10 de abril de 2013

Fim


Secaram as fontes
Morreram as flores
E já nem os lameiros
Têm o verde de outrora
Não há borboletas
Na maciez das pétalas
Que minhas mãos cuidaram
Não há nada que me faça
Acreditar que ainda 
Há vida em nós

Já nem cai a neve
No inverno
Nem se dá o milagre
Do sol 
Já o verão nem é verão
Até a primavera 
Se encolhe no corpo 
Do outono

Só um nada ficou
Resquícios do que 
Nos ocupou
Enquanto ilusão
Que em nós ficou

Não há vida em nós
E sei-o…
Porque também sei
Que os jardins voltaram a florir
E nós não vimos as flores
Nem sentimos os odores
Tal como não enxergámos
Os tons de azul no céu
O rosa acetinado das manhãs
O branco espalmado do lençóis
Onde nossos olhos choraram 

Sabes que o vermelho vivo
Cobre já as encostas 
E há brisas a ensaiar outros bailados
Nas pétalas das novas flores?

Não há vida em nós
E sei-o porque sei também
Que a chuva que caiu
Na última noite
Amoleceu a terra e deixou
Marcas profundas de outra noite
Em que o vento soprou
E nas janelas, até tatuou
Marcas de uma lágrima
Que não viajou 
E se lamentou
Pela perda que em nós ficou

Não há vida em nós
Mas se quiseres, até podemos
Esperar que a próxima estação
Nos dê alguma cor
Ou algo que nos faça
 Calar a dor 
De não termos vida 
Para viver outra vida em nós

Foto: Spencer TunicK

2 comentários:

Filipe Campos Melo disse...

E, contudo, vida há,
assim o verso a escreva

Gostei muito do recurso à negativa afirmação que reforça o tom contagiante do poema

Um belo exemplo da tua bela sensibilidade

Bjo.

Evanir disse...

Sabe aquele abraço bem gostoso??
Pois é esse que vim te deixar.
Aqui deixo meu imenso carinho
por você.
Que seja nossa amizade
a mais infinito que houver.
Uma Tarde linda e abençoado.
Beijos no coração.
Carinhos na Alma.
Evanir..







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