segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ad eternum (dueto)



Cândido rosto, talvez
Adormecido no convés 

Cruza o rio em barcas novas
Sem remos, nem bússolas
Sem sóis e nem luas cheias
Que se enleiem por todas as correntes
Do límpido e transparente lugar
Onde os olhares se escondem

Sublime é a beleza 
Nos impuros traços
Que marcam a distância
Entre dois espaços
O meu e o dele

É em fúria, um abandono
Fardo pesado na branda folhagem 
Que dispersa, se afunda
Transcendendo as novas levadas cristalinas
Fruto dos últimos sacramentos
Em deleite, para o Ocaso

Mente descrente e abundante
Em pensamentos oriundos de outrora 
Como se fosse agora
A única demente
Mas crente 
Na figura carismática
Que vive por entre as auroras boreais
De todos os tempos

É efémera
Mas fêmea na sua doçura
Excomungada aos domingos 
Nas páginas de um missal antigo 

É silêncio gelado
A ferir a face primeira de um rosto
Que se veste de olhares fundos 
Na fundura do rio

Diz-me de um desejo eterno
De contar um conto
Que conte às histórias todas
Que já me contaram por aqui
A Ode - ad eternum

Diz-me que será a feição 
De todas as sombras da noite 
E em espírito perdurará
Será alma errante
Pelos poros todos da minha pele
Mas que nunca será marca
No céu, sem mim

Dolores Marques / Mary Dumond

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