Cândido rosto, talvez
Adormecido no convés
Cruza o rio em barcas novas
Sem remos, nem bússolas
Sem sóis e nem luas cheias
Que se enleiem por todas as correntes
Do límpido e transparente lugar
Onde os olhares se escondem
Sublime é a beleza
Nos impuros traços
Que marcam a distância
Entre dois espaços
O meu e o dele
É em fúria, um abandono
Fardo pesado na branda folhagem
Que dispersa, se afunda
Transcendendo as novas levadas cristalinas
Fruto dos últimos sacramentos
Em deleite, para o Ocaso
Mente descrente e abundante
Em pensamentos oriundos de outrora
Como se fosse agora
A única demente
Mas crente
Na figura carismática
Que vive por entre as auroras boreais
De todos os tempos
É efémera
Mas fêmea na sua doçura
Excomungada aos domingos
Nas páginas de um missal antigo
É silêncio gelado
A ferir a face primeira de um rosto
Que se veste de olhares fundos
Na fundura do rio
Diz-me de um desejo eterno
De contar um conto
Que conte às histórias todas
Que já me contaram por aqui
A Ode - ad eternum
Diz-me que será a feição
De todas as sombras da noite
E em espírito perdurará
Será alma errante
Pelos poros todos da minha pele
Mas que nunca será marca
No céu, sem mim
Dolores Marques / Mary Dumond
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