quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Tudo é silêncio

 Quero do fruto proibido
A desordem natural
Espero a vida num labirinto
Mas não vejo a entrada
Não vislumbro uma saída

Bebo da fonte
Todas as vontades
Sacio o meu desejo impuro
Mato a minha sede agreste

O extermínio
É a força dominadora
Ouve-se o último tinir do vento
Na revolta do meu corpo
Não sinto a minha alma

O frio é agora um manto seco
Agruras de outros tempos
A sua incompleta figura
Calou-me
Amortalhou-me
Sufocou-me

Segui numa eterna procura
Fui calamidade na noite
Agora tudo é folhagem dispersa
Tudo é silêncio
Tudo é nada

A madrugada chega flamejante
E com ela
Andrajo
Pedinte
Andarilho pelo tempo

Pinta grafitis nas paredes
Agitam-se sombras loucamente
Inicia-se a fuga
Junto ao ventre imaturo

O desejo escorre
Como restos de pingos de chuva nas vidraças
No rio afogou-se o último suspiro da noite
Tela: DM = MD

Incapacidade


Não te posso deixar, sem me sentir ir
Não me posso salvar, sem tentar curar-te
Não me posso queixar, sem saber ouvir-te
Não me posso calar, sem saber distinguir os sons do silêncio
Não te posso guiar, sem saber ouvir os sinais...

Não posso nada sem ti

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Indefinição

                                                       Paranoiac Visage – 1935 Dali


Veio de muito longe
Despedir-se do sol

Trazia um manto 
Para sossegar os olhos
E realçar a dor 
Tingida de branco

Triturou o ar 
Com o seu 
Bafo quente

Foi só por uma vez
Que mirou o seu reflexo
No círculo 
Que seus olhos traçaram

Cárcere inabitado por todos
E ele definhava ali mesmo

Chamas esvoaçantes
Culminaram na intrometida esfera
Aglutinando o pensamento abstrato

(Tinha dado continuidade 
Ao seu corpo
No limite dos seus passos)

Excomungada a sua alma
Adivinhava um novo tempo
De espera

Pereceu 
Sem que todos os astros
Formassem fila única
E lhe mostrassem
A sua última viagem

Seria ali a criação
Dum novo paradigma
Contrastando com a imagem
Agora indefinida

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Tão breve


Sentada e recostada nesta cadeira, vejo-te passar em busca de alimento diário.
Tão breve é a minha passagem pela tua queda, que me junto a ti para te ajudar a erguer, para que sigamos caminho junto dos nossos semelhantes.
- Semelhanças que são como andrajos arrastados pelo vento, imagens distorcidas e envelhecidas pelo tempo em que não andávamos, mas rastejávamos.

Fecho os olhos, e ainda assim, vejo uma imagem indefinida tocada por alta voltagem a apontar em todas as direções, mas sem conseguir tocar qualquer ponto. Levanta-se um dedo e não atinge sequer a dimensão de um ponto.