In Yang
- Não, não sou poeta. Escrevo poemas, dizes?
- Nao sei se assim os lerão.
- Lê-me um poema meu e dir-te-ei se sou poeta, ou se porventura, serás tu o poema.
- Em que ficamos? Preferes ser poeta ou poema?
- Vou beber água à fonte que resiste ainda na casa de cima.
- Eu tenho fome. Sinto um desejo a crescer nas mãos. Acho que prefiro colher frutos do pomar. Das romãs, sugo o primeiro elixir do dia, como se fosse o último da vida desse arbusto florido.
- Os meus pés dão sinais de um cansaço estranho, como se o meu corpo os largasse, condenando-os aos subúrbios de um céu a preto e branco.
- Enquanto isso, o meu corpo assume-se esquartejado, resistindo somente a alma, como se fosse a casa de Deus.
- O meu coração dá sinais de euforia, enquanto tombadas, as romãs se achegam perto da boca.
- Procuro rimas para um poema sem voz.
- Nada me importa, desde que sejam libertas todas as aspas que alguns poetas têm ainda presas, na garganta.
- Não, não sou poeta, escrevo poemas, dizes?
Epifania (pseudónimo)
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