Os dias parecem-me todos iguais, menos os Natais. Ou será o contrário? Os Natais sempre iguais, e os dias desirmanados, aconselham a que se sobreviva a todos os contrários?
É esta longa caminhada que sem saber onde acabar, despropositada, arrasta atrás de si, uma longa espera.
É este rebuliço que rompe todas frentes, e todas as frentes são as mesmas, sem começo e sem fim.
É este continuado posto, a parar as horas, a determinar os dias Natais e os dias normais.
E é tudo carimbado, selado, organizado em prol de todos os que não têm Natais.
Mas, e os dias indeterminados, as horas mortas por detrás de um relógio antigo?
Antigos são também todos os gestos a precisar renovar os traços das palmas das mãos.
Dolores Marques
"Deus não é um conceito muito filosófico, é este mundo visto através dos olhos de uma criança" (OSHO)
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Melodias
Continuarei como sempre a contrariar os ventos. Já não me vestem como outrora.
Sairei para a rua quando chegarem novas melodias tuas.
E seremos brisas e cantos novos. Dançaremos nus quando caírem as novas chuvas.
A nudez é una!
Planaremos pois, enquanto não chega a primavera.
Sairei para a rua quando chegarem novas melodias tuas.
E seremos brisas e cantos novos. Dançaremos nus quando caírem as novas chuvas.
A nudez é una!
Planaremos pois, enquanto não chega a primavera.
Dolores marques - ônix
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Além dos limites do Eu
Há flores num espaço aberto
Molho com a minha saliva, as pétalas roxas
Cubro com os meus lábios, os caules avermelhados
Há um lugar ermo, amparo de um sonho distante
Ergo os braços ao encontro de um punho fechado
Há um pensamento abstrato a roçar no sobrado onde me deito
Bajulação de um momento
E só…o corpo é figura desenhada nas tábuas polidas pelo tempo
Nas memórias, a ante-manhã que me diz “SIM”
Um amontoado de células vivas, amarrotadas no sótão dos afetos, que me diz “NÃO”
A dor contrai-se perante o som agudo, onde o existir é um puro manifesto
Mas há um corpo deitado na acalmia da terra, coalhando o sereno da noite
Sobre o dorso, um caminho estreito
Na longitude dos braços, um carreiro oblíquo
Nas pernas, a fortaleza a caminhar para o vazio ainda virgem
No peito, um batimento incerto, tal um relógio a emendar o tempo
No rosto, as rugas, escancarando a única certeza das estátuas caídas
Nos olhos, dois sinais que indicam um olhar a perder-se no escuro
Ali se propaga e se desmembra por todos os quadrantes do seu universo
Ali se entrega ao submundo e se cruza com os fogos que o consomem
E eu, atendendo à nova teoria do pensamento
Escondo-me
Rendo-me aos contrários
Sustento o manto que me cobre a alma
Há no topo da montanha, um sem-fim de terra
É ponto de passagem a um corpo que balança sob as nortadas baixas
Encontros que espelham a dor
Desencontros ameaçadores das fugas por entre dentes
Uma boca que reluz no escuro
(Um quilate de ouro a mais na dentição genuína e demolida na boca do mundo)
Há um sonho que acorda a madrugada
E eu, póstuma constelação à espera de outra marca do tempo
Que me conte os ossos e me endireite o corpo
Que me remende a sorte, para caminhar a Norte
Que me reconte as sobras que ficaram perdidas nos bolsos
Que me refaça o meu inverso
E o mar, sempre o mar a galgar sobre a terra orvalhada
Sem no entanto, resistir ao mundo que o fez mar salgado
Tempero dos que falham no ponto
Onde o lusco-fusco se fez vida
Alem dos limites do eu
Dolores Marques; (Ônix in Fios de Luz/2011)
Molho com a minha saliva, as pétalas roxas
Cubro com os meus lábios, os caules avermelhados
Há um lugar ermo, amparo de um sonho distante
Ergo os braços ao encontro de um punho fechado
Há um pensamento abstrato a roçar no sobrado onde me deito
Bajulação de um momento
E só…o corpo é figura desenhada nas tábuas polidas pelo tempo
Nas memórias, a ante-manhã que me diz “SIM”
Um amontoado de células vivas, amarrotadas no sótão dos afetos, que me diz “NÃO”
A dor contrai-se perante o som agudo, onde o existir é um puro manifesto
Mas há um corpo deitado na acalmia da terra, coalhando o sereno da noite
Sobre o dorso, um caminho estreito
Na longitude dos braços, um carreiro oblíquo
Nas pernas, a fortaleza a caminhar para o vazio ainda virgem
No peito, um batimento incerto, tal um relógio a emendar o tempo
No rosto, as rugas, escancarando a única certeza das estátuas caídas
Nos olhos, dois sinais que indicam um olhar a perder-se no escuro
Ali se propaga e se desmembra por todos os quadrantes do seu universo
Ali se entrega ao submundo e se cruza com os fogos que o consomem
E eu, atendendo à nova teoria do pensamento
Escondo-me
Rendo-me aos contrários
Sustento o manto que me cobre a alma
Há no topo da montanha, um sem-fim de terra
É ponto de passagem a um corpo que balança sob as nortadas baixas
Encontros que espelham a dor
Desencontros ameaçadores das fugas por entre dentes
Uma boca que reluz no escuro
(Um quilate de ouro a mais na dentição genuína e demolida na boca do mundo)
Há um sonho que acorda a madrugada
E eu, póstuma constelação à espera de outra marca do tempo
Que me conte os ossos e me endireite o corpo
Que me remende a sorte, para caminhar a Norte
Que me reconte as sobras que ficaram perdidas nos bolsos
Que me refaça o meu inverso
E o mar, sempre o mar a galgar sobre a terra orvalhada
Sem no entanto, resistir ao mundo que o fez mar salgado
Tempero dos que falham no ponto
Onde o lusco-fusco se fez vida
Alem dos limites do eu
Dolores Marques; (Ônix in Fios de Luz/2011)
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Abnegações
Transformar o nosso olhar num lugar inóspito, onde o sol despeja todos os detritos luminosos, e não abrirmos os olhos para a segunda metade de nós. Ir ao encontro do mar onde guardamos os restos mortais de um corpo que quer a todo o custo vencer a tormenta.
Resíduos que se afogam num mar de lágrimas que não sabem onde mora a fonte de todas as abnegações.
Dolores Marques; (Dakini - Ilusorium/11)
Foto DM - Bem perto do mar
Resíduos que se afogam num mar de lágrimas que não sabem onde mora a fonte de todas as abnegações.
Dolores Marques; (Dakini - Ilusorium/11)
Foto DM - Bem perto do mar
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Ultimatum
Debrucei-me sobre as aspas de uma frase
Oblíqua
Saliente
Tosca
Disforme
Mas de cintura fina com um brilho mate
Distante
Tão distante estava eu antes de ela me reescrever
Fui caminhando sem ver
Fui cessando sem saber
Havia um só tempo para seguir aquela linha inteira
Que traçava um caminho aposto no meu imaginário
Já não sou eu
Que quero ser uma frase inteira
Num céu sem cor
São elas
As aspas que me fazem ser alguém
Ou nas horas mortas
Ninguém
Já não sou eu
Que quero ser uma palavra vã
Achada por morte sã
Catalogada e alegorica(mente) certa
Mas indiscriminada
Sujeita às diversas alterações morfológicas
Resíduos que se despejam nas marés vivas
De um desejo traído
Cuspido
Sujo
Caiu agora desse mastro antigo
Desdita esta sorte mal(dita)
Feita em pedaços
Entregue à dor das palavras sobrepostas
Que viajaram caladas
Nas costas arqueadas
Dum marinheiro já morto
Deram um salto no mar alto
Afogaram-se inteiras
E traçaram uma linha sobre a mudança das marés
Dolores Marques (Ônix; A Voz do Silêncio/2009)
Foto: Eu que quase transformava a minha sombra num grafiti estatelado no chão da minha aldeia
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Princípio do fim
Isto que começa aqui
E termina aí
Isto que nasce com lei
É o princípio do fim
Do único fim
Tudo se apaga
Tudo é a noite fria
E os dias sem lei
Sem nenhuma ordem
Que ordene
Um novo princípio
Isto que começa agora
É a noite fria
São olhos fechados
Para dias futuros
Isto que começa aqui
É um caminho sem lei
Isto que começa aqui
E termina aí
Dolores Marques – Dakini 2013
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