domingo, 25 de junho de 2023

In Yang


 In Yang


- Não, não sou poeta. Escrevo poemas, dizes?

- Nao sei se assim os lerão.

- Lê-me um poema meu e dir-te-ei se sou poeta, ou se porventura, serás tu o poema.


- Em que ficamos? Preferes ser poeta ou poema? 

- Vou beber água à fonte que resiste ainda na casa de cima.

- Eu tenho fome. Sinto um desejo a crescer nas mãos. Acho que prefiro colher frutos do pomar. Das romãs, sugo o primeiro elixir do dia, como se fosse o último da vida desse arbusto florido.


- Os meus pés dão sinais de um cansaço estranho, como se o meu corpo os largasse, condenando-os aos subúrbios de um céu a preto e branco. 

- Enquanto isso, o meu corpo assume-se esquartejado, resistindo somente a alma, como se fosse a casa de Deus.


- O meu coração dá sinais de euforia, enquanto tombadas, as romãs se achegam perto da boca.


- Procuro rimas para um poema sem voz.


- Nada me importa, desde que sejam libertas todas as aspas que alguns poetas têm ainda presas, na garganta.


- Não, não sou poeta, escrevo poemas, dizes? 


Epifania (pseudónimo)

Sombra

 

Sombra


Não me queiras mal

que eu também não


Não te sinto perto 

nem longe  

transferência incolor de néons

cintilante desvio de vidas passadas 


Sombra...sombra...sempre tu 

equivoco rastejante  

fria

madrugada além do dia

não me digas nada hoje

talvez amanhã sejas poema

um corpo

a alma que sorri


Não sei como avançar sem te levar

sombra inquieta

melódica

metódica

amante da noite

rastro de sangue 

quebranto de um santo

ainda vivo


Herege…herege…herege

é este pecado meu


Não me queiras mal 

que eu também não 

o vento, agora companheiro

varre as sombras dos caminhos…


Guia incompleto

replecto de mistérios

não me sei noite 

nesse cruzamento de dados...

não me sei dia

nesse limiar da tristeza


No limite serei eternamente nós 

sabias disto

ser um dos maiores… nós?


Não….

decerto não

eu e aquela sensação 

clareza de um rio veloz 

corrente insidiosa 

toma-me…inerte…

sempre inerte este invólucro da alma


E tu, sombra 

que vives à sombra de mim

pára

não me afrontes 

enquanto durmo


Que sonho


Dakini, pseudônimo

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Mulher


 Despida para a maior parte,

sou a loucura de uma noite fechada

em nós 


Sou a mulher 

que te ama como se fosses o Amor

nascido do meu ventre


Nua nas tuas mãos, serei 

a luz que emanam

esses transeuntes noturnos

a procurar a justa causa

disto tudo


Depois nada és

quando dentro de mim

souberes que somos nós

um e outro 

na procura da verdade

....

Marta do Vale, pseudônimo de Dolores Marques 

domingo, 11 de dezembro de 2022

Simplesmente


 Em "Simbioses Montemuranas"


Conheço o vento e a força

dos elementos

como quem se faz ao mar

ao encontro das marés


Descansam mares nos meus olhos

e rios no meu corpo


Seguro nas palmas das mãos

um sopro de serra, como um punhado

de aragem miudinha

e nos pés, o fogo do último astro


Tenho ainda, Terra à vista

para o que der e vier

ou para o que quiser ser em mim


Dolores Marques

Eu