Ouvia o tic-tac do pêndulo
no relógio quebrado
escutava-lhe as lamúrias do tempo
num tempo passado
Ouvia-o sempre antes de dormir
escutava o tempo no estrebuchar
do pêndulo do relógio antigo
num tic-tac que se balançava
ao canto da sala
E a janela fechada
E a porta trancada
E o relógio quebrado
E o tempo parado
E eu, ainda colada aos sons do vento
porém calada, engolia os impulsos do tic-tac
nas ladainhas surdas de um relógio quebrado
E eu, malfadada pelo som das rajadas do vento
cujos prantos se avultavam
pelos cantos todos da casa
O vento serenava
mas o pêndulo ensaiava os sons irrequietos
ao canto da sala
enquanto o meu corpo se desengonçava
e os meus olhos fungavam
espelhados num esgar lento
sobre as vidraças da janela fechada
A noite, sentida ante o lacrimejar
do tempo despejado na janela
levava-me secretamente
pelo espaço, agora sem tempo
ONIX
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