Lá fora
no avesso do mundo
há um rio que deserta
mas chora num lugar
sem fundo
(A lua solta-se breve e costumeira
tal orgasmo do sol a colidir com a noite)
Enquanto se espera
pelo som abafado
das pingas grossas
nas vidraças
tudo é a graça
que por sua Divina Graça
une o céu com a terra
Na serra
ainda a lonjura
do tempo
se mantinha acesa
enquanto o sino
se balançava
irrequieto
por quanto o som
traiçoeiro
se adentrar pelas maiores dores
do mundo cá dentro
Por demais extenuantes
eram os seus ecos
vibração, paixão
talvez até comiseração
por um rio perdido
agora por mares tumultuosos
de obrigação
ou quiçá, pelos altares
onde se ajoelham
todos os Mestres
que trazem a bem aventurança
de todos os tempos
(Calados, frios e sombrios
são todos os tempos do mundo)
E ali
somente as águas paradas
recebiam as mãos abertas
para um todo
inseparavelmente cuidado
como se cuidam
todos os sonhos
quando navegam em águas brandas
até à chegada
das novas chuvas
para regarem os campos
Enquanto isso
o sino tocava às almas
e desprezava uma lágrima perdida
na imensidão do tempo
agora espelhada na pia de água benta
ÔNIX 2016
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