É no silêncio que ouço o meu próprio canto
mas é aqui neste palmo de terra
onde repouso a minha voz
que te ouço
que te espero
que nos remedeio
estreitando laços
enlaçando-me nos nossos próprios laços
Mereço-me assim
nesta sujeição perfeita
sempre que me sujeito a ti
numa viagem interminável por caminhos outros
que nos trazem sempre a paz que merecemos
Silencio-me e vou indo na voz de um silêncio inquieto
mas acabado num quase início de noite
onde brilham os sonhos mais distantes
São eles um meio de nos reerguermos
e de nos dizermos das gentes que somos
das crenças que obtemos
neste patamar sombrio
onde as ilusões criam raízes
e soltam gargalhadas matinais
por sobre a terra onde nascem os sobreiros
e as oliveiras
Quero porque quero
a luz que lhe cobre os ramos
Os da Oliveiras…
Quero porque quero
os adornos dos ramos gigantes
Os dos sobreiros...
São terminais de uma floresta verde
onde me endireito e me conserto
quando faço da cortiça esteira para o meu leito
e dos olhos negros das oliveiras
a luz que me guiará…um dia
Há um mundo que desconheço lá fora
e esse será o meu sustento
quando daqui me for embora
mas, por enquanto deixem-me ficar
preciso ir-me num sono lento
e ficar
a sonhar que me fui num momento
Dolores Marques
Poema na antologia “Entre o Sono e o Sonho” da Chiado Editora /2013