Debrucei-me sobre as aspas de uma frase
Oblíqua
Saliente
Tosca
Disforme
Mas de cintura fina com um brilho mate
Distante
Tão distante estava eu antes de ela me reescrever
Fui caminhando sem ver
Fui cessando sem saber
Havia um só tempo para seguir aquela linha inteira
Que traçava um caminho aposto no meu imaginário
Já não sou eu
Que quero ser uma frase inteira
Num céu sem cor
São elas
As aspas que me fazem ser alguém
Ou nas horas mortas
Ninguém
Já não sou eu
Que quero ser uma palavra vã
Achada por morte sã
Catalogada e alegorica(mente) certa
Mas indiscriminada
Sujeita às diversas alterações morfológicas
Resíduos que se despejam nas marés vivas
De um desejo traído
Cuspido
Sujo
Caiu agora desse mastro antigo
Desdita esta sorte mal(dita)
Feita em pedaços
Entregue à dor das palavras sobrepostas
Que viajaram caladas
Nas costas arqueadas
Dum marinheiro já morto
Deram um salto no mar alto
Afogaram-se inteiras
E traçaram uma linha sobre a mudança das marés
Dolores Marques (Ônix; A Voz do Silêncio/2009)
Foto: Eu que quase transformava a minha sombra num grafiti estatelado no chão da minha aldeia
1 comentário:
O verso
distende-se
num traço por dizer
estende-se como silhueta de um passado prescrito
por reescrever
Tu sabes o quanto gosto
Bjo.
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