O que pensarias
Se me visses
Ir embora
Sem um toque
Sem um gesto
Sem um aceno
Com a mão direita
Para logo depois
A da esquerda
Te tocar ao de leve
Os lábios
Ainda quentes
Dos beijos
Que demos
E dos soluços
Que engolimos
Um do outro?
Diz-me porque
Mastigas o ar
Que respiro
E porque te deixas
Ao abandono
No mesmo chão
Onde apoio os pés
E te denuncias
No mesmo céu
Onde descanso
O corpo?
Disse-te tantas vezes
Que não existe
Qualquer ponto
Em qualquer espaço
Que não esteja ocupado
Com um sentimento
Que ainda não se entregou
Aos ventos do inverno
E nem às brisas
De uma primavera
Que agora chegou
2 comentários:
O eterno abandono contraposto à perenidade dos dias
O resto de ar rarefeito no espaço desocupado
E o verso
sempre o verso
"O que pensarias
Se me visses
Ir embora
Sem um toque
Sem um gesto
Sem um aceno"
Reencontro-me sempre
Bjo.
Uma poesia muito comovente.
Muitas vezes vamos embora
sem ter tempo para um gesto...
para um toque...
Bj.
Irene Alves
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