terça-feira, 30 de julho de 2013

Tudo e nada


Era um tempo em que havia de tudo
Menos do mar, menos do céu
Menos do sonho, menos de nós
Era um tempo em que voava
E chegava a algum lugar
Sem mesmo me sentir chegar

Agora tudo é ausente
Tudo tão distante
Tudo tão imenso
Tudo tão disperso
No meu olhar

Nem a terra existe
Para me sentir pousar
Tudo é vazio
Tudo é triste
Tudo é nada
A querer continuar
No mesmo lugar

Dolores Marques - Ônix - Eventos 2013

No alto dos seus corcéis

Caem os sonhos
resgatados pela aurora
soam tambores na madrugada
ouvem-se a trote, trauteando 
no alto dos seus corcéis
os novos cavaleiros de Troia

traem o destino do vento
à semelhança do tempo
demência dominante
nos caminhos traçados
pelos seus próprios pés
em rodopios frenéticos
como os “feios porcos e maus”
deslumbrados e atabalhoados
salivantes e arrepiantes
cospem nas pegadas 
que vão deixando
 no pó do caminho

exploradores, aventureiros 
conquistadores de vidas alheias
a demanda, em marcha fúnebre
pelos calaboiços da sua vontade
a reluzir por dentro da sua meia verdade

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Proclamação vs Redenção



Sorri sem mágoa
sorri e não sejas
um sorriso forçado
a cair no sobrado
pela mágoa que corrói 
negra, como é a fome
de alguns…

olhos de água
esbatidos nas 
novas correntes
que se acabam 
nas muralhas
e se sentem felizes
por estarem perto
e não longe
por serem donos
de um crer 
em todos os Santos
que aos domingos
dançam nas igrejas

sorri sem mágoa
que a tristeza
é dona e senhora
de quem conta
com os dedos todos
as contas 
de um rosário 
pendurado 
nas mãos de cristo

sorri que o mundo
caiu em desgraça
e jaz agora na praça
onde todos os poetas
clamam por mais dores
para se adornarem 
os andores


Dolores Marques; Dakini-Eventos/13

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Piercing's





remendei-lhe os cantos
da boca
para que não vissem
as aliterações a entrar
e a alterar-lhe 
o estado anémico 

tinha um piercing 
esburacando a noite

mas, sem olhos
nem vestes
nem corpo
nem alma 
para guardar
todos os silêncios
que precisa escrever


Dolores Marques; Dakini – Modus-Informe/10

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ocasionalmente (o ocaso)



Parecia que estava para lá de tudo
Parecia mas não sabia ainda 
Como chegar lá

O horizonte a equilibrar-se nos seus olhos
E ele a encolher-se 
Sem saber como desenhar naquela tela
O infinito

Aquele emaranhado de cores
Eram agora um portal fechado
Uma mescla de tons sombreados
A caírem como quem cai 
Na terra molhada
E não sabe que o sopro da chuva
É a beleza matinal 
O orvalho de todas as madrugadas

Deixava-se seduzir pelas ameias
Que o prendiam ao passado
Queria tudo o que fosse para ele 
Ainda um canto na inércia dos dias

O sol chegou cedo mas nem assim
Conseguiu abrir os braços 
E deixou que o abraçasse
E lhe desse mais vida naquele lugar

Era o momento ideal para se saber vivo
Era aquele o caminho
O dormitório de todos os seus medos

E ele agora deitado sobre 
As tábuas velhas e podres
Fazia daquele pedaço de chão 
A sua razão
A sua condição
De homem enjeitado 
Numa tela esquecida no sobrado

terça-feira, 2 de julho de 2013

Sonhos



É no mínimo estranho,  quando se entra de forma abrupta num sonho tentando cortar as asas do próprio sonho. 

 Foi penoso, tentar adormecer uma borboleta, para que eu pudesse dormir também, à espera de juntarmos os voos numa noite que ficará na memória de todos os sonhos.


Dolores Marques – Ônix Eventos 2013