terça-feira, 28 de abril de 2009

Não Façam Chorar as Flores do Meu jardim

Há nos murmúrios da corrente
Um cântico negro
Neste mar sem fim
Se eu fosse um talismã das águas
As lágrimas irrigariam as flores
Que secaram antes de mim

Não façam chorar as flores
Do meu jardim
Se quiserem navegar
Num rio de lágrimas
Entrem em mim

Eu sou a janela
Que se abre para o mar
Um olhar a postos antes do fim...

Aqui onde elas se dividem
Há um adorno que me cobre o peito
Mas não são as flores que colhi

sábado, 25 de abril de 2009

De Frente Para o Mar

Tinha um desejo a saciar
Escorria pela boca
E o meu corpo
Ainda em fase de amar

Tenho-te na mira do amanhã
E perpetuo um momento
Eter(na)mente lento
Consentido no meu leito

Tens nuances da cor do céu
No teu olhar
E um sonho por desvendar
Cravado nas tuas mãos

E os meus olhos choram
Na noite aberta para mim
Como quando se abre
De frente para o mar

Amores perfeitos
Perfumam o ar
E sofro por não saber
Onde plantar as flores

Se nas distâncias
Que nos separam
Ou nos corpos
Que se molharam...

Há lágrimas caídas
A meus pés...

Apresentação do Meu Livro Olhares Editado em 2008


O meu livro "OLHARES" editado em 2008, pela Corpos Editora, irá ser apresentado, dia 02 de Maio nas Termas do Carvalhal, em Castro Daire, com o apoio da Câmara Muncipal

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ecos no Templo Sagrado

I - Incensos

…E o ruído alonga-se ao fundo
Há um esboço de sóis dourados
A meus pés…
Encontro no ar ressequido
Um odor d’incensos
A exalar-me os sentidos

Preces e murmúrios
São ecos nas paredes nuas
Que traçam em circulo
Silhuetas de um só corpo

Ouvem-se cânticos primaveris
É o tudo que forma a unidade
Às portas da tríade
De tempos idos
E dos que hão-de vir

Novas cores pintam o céu
São inocências cor de arminho
E uma lágrima que é tudo
Mergulha na pia baptismal
Os olhares misturam-se nas rosas
E as vozes somem-se nos ecos
Fora de tempo…

…E o ruído alonga-se ao fundo
Perco-me nas emoções
Por entre as vestes brancas
Prostradas no chão
E esta dor que me consome o peito…
II -Templo Sagrado

Novos sons pincelam o ar
Ouvem-se os risos das crianças
Elas, têm nos vestidos
A candura dos fios de linho
Eles…nas camisas

O mais pequeno sorri
Mas corre intimidado
Aprendeu a andar há pouco tempo
E não entende que reboliço é este
Encontra-se de frente para o sol
E vê que tudo é tão fácil

E aquelas crianças todas
Que enchiam o largo
Fiquei a olhá-las…
Por me saber também
No meio delas

E o meu xaile de seda
Sobre os ombros traçado
Tem a cor do meu fado
E o ruído alonga-se ao fundo…

Aos beijos e abraços
Seguem-se os olhares cativos
Mas estas crianças não sabem
Quem chega e quem parte
E o sol resguarda-se…
Há um outro templo sagrado
III – Alimento do Corpo e da Alma

E agora o líquido que escorre
Pelos meus lábios
É doce no encontro
Dos vales circundantes
E o ruído alonga-se ao fundo…

Este é outro eco
Qu' emana d' um ventre imaculado
Encontra-se sempre
Quando há sementes vadias
E colheitas tardias
No fim do verão

E os sorrisos das crianças
Ainda lá estão
****************
Inspirado num ritual de baptismo...dedicado à minha família

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Procura-me...

Há um beijo solto
E uma boca aberta
Que engole os sorrisos
Do mundo...
Quero-te muito
Mas não suporto
Este peso morto
E dói-me tudo...

Dói-me tanto
E sofro...
Por não poder ser
Pena leve no Universo

Tenho um cisco nos olhos
Caiu dos pedaços
Do céu...
Quando o dia se fez breu

O meu olhar anda a monte
É pétala no teu rosto
Esvaiu-se...
Na atmosfera vulcânica
Que te cobre o corpo
Fluidos quentes
Que tomas para ti
Na ausência de mim

Sinto na leveza
Do pensamento...
O gosto amargo
De ser o nada
Ou o todo
Que se verte
Nas crateras nuas
Onde te perdes

O meu corpo
Abre-se a ti
Vê como se encontra
No infinito
Quando se consome
Nas pupilas dos teus olhos

Procura-me...
Encontras-me sempre
No início de ti

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Trago de Amores

Na magia dos sonhos
Uma onda dispersa
Fareja no escuro
Um olhar perdido
Nos caminhos do rosto

Há um sopro de vento
E uma lágrima solta
Que reside à volta do mundo
Que eu bebo...
De um fôlego só

Parida que é
Na terra que a sustém
Acorda-me nas madrugadas
Um suor escorrido
E nos lábios um choro quente

Há um desejo esquecido
Em ondas multicolores
Que transforma
As gotas de orvalho
Num trago de amores

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Além de Mim e de Ti, Há Um Imenso jardim

Foto de minha autoria (Jardim das rolas Parque das Nações)


Hoje acordei num corpo nu
Cheirava a rosas…
Jasmim, carmim ou carmesim
Mil flores em tons de céus
Afloraram pétalas
Em cima de mim

Não sei se sou um sonho
Ou se um sopro
Esmagado no teu cheiro
Os canteiros foram desflorados
Num corpo lavrado
Em mim…

Há novas cores no meu jardim
E o desejo das finas flores
Que me pintam o rosto
Bebe da cor das lágrimas
Fragmentos de orvalhos es(calados)
Mesmo em baixo de mim

Toma-me de um jeito morno
Em colo perfeito
E recolhe do mundo
Um doce pranto
Que adormece sempre
Arriba de mim

Entre o real e o irreal
Há um só tempo…
Que se esbate na candeia acesa
E se resguarda
Para lá de mim…E de ti
No mesmo jardim

Entre o ser e o não ser
Mais que um simples corpo
Dor(mente) e caído
Abaixo de mim
Sei que sou eu inteira
Que me fiz assim

Arranquei do silêncio
A única verdade
Acima de mim…
Raízes seculares
Profanaram o templo
E rasgaram o manto
Que a cobriam

Sou flor esquecida
Em outro jardim
Porque me tolhes os gestos
Se somos um só...
Na essência renascida
Acima de ti e de mim?

Sobrevivo no tempo
Tapo e destapo
A agonia do mundo
Que se borda
Nas bordas imaculadas
Do autêntico e verdadeiro
Colo Sagrado…

Resguardo-me…
Primeiro a mim
E o véu transparente
Tecido em pétalas roxas
Vela também por ti

E eu…

Bebo do cálice da vida
Neste imenso jardim
***************************

domingo, 5 de abril de 2009

Um Sonho Leve

Imagem Google
Este é talvez
Um só momento na noite
Chegar a casa e esperar
O fim de um…
E o princípio de outro sonho

Há noites
Que são momentos
Nas distâncias
Que nos separam

Lá onde o vento canta
Na lonjura do tempo
Foste a esperança
De um aconchego

Um sorriso morno
Em casta madura
Segregas do teu corpo
Exotismo de espécie rara

Sou-te….
Nudez plena
E tudo o que acontece..
É simplesmente Ser
Mais do que um sonho leve
Quando o tempo escorre

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ouço-te...(de Octávio da Cunha)

És um poema
Onde deitaria meu corpo
A ouvir-te...
A sentir
O teu coração
Pousar na minha mão
E com esta
Pousar-te
No peito faminto

Sou um pássaro perdido
No ar perfeito do teu pensamento
Sou turbilhão de prosas
Na imaginação que transpiras
Sou a ilusão do tema
Quando te perdes

Quero-te beber
As palavras surdas
Mas não sei...
Se são
Encruzilhadas
As poucas certezas de te saber
Sei que te ouço...
No pouco tempo de estar
Mas sei também
De um minuto
No universo
Onde tudo se pode ser
Onde tudo se pode ter!

Ouço-te
Nos rios nascidos
Que em mim naufragam
Sei dos temporais antigos
Que transbordam
Em remoinhos frouxos de prazer
E...
Ouço-te
E sei...
Que tens tornados de mel
Mares lembrados
Fogueiras ateadas
Nas almofadas solitárias
Que te sabem a fel...

Não partas, chega!

Gostei muito do teu poema e as palavras saltaram- me instintivamente...
Espero que gostes.

http://octaviodacunha.blogspot.com/